Para a maioria das pessoas normais, beber significa vida social, companheirismo e imaginação fértil. Significa alívio da ansiedade, do tédio e da preocupação. É um alegre relacionamento com os amigos e uma sensação de que a vida é boa. Mas não para nós, nestes últimos ANOS de bebida em excesso. Os velhos prazeres foram-se. Restaram apenas lembranças. Nunca conseguimos reviver os bons momentos do passado. Havia uma incessante busca para aproveitar a vida, como um dia fizemos, e uma desesperada obsessão de um novo milagre de controle permitisse-nos voltar atrás. Havia que sempre uma nova tentativa – e um novo fracasso.
Quanto menos os outros suportavam-nos, mais isoláva-mo-nos da sociedade e da própria vida. Ao tornarmo-nos súditos do Rei Álcool, trêmulos cidadãos de seu reino louco, desceu sobre nós a deprimente névoa da solidão. Ela aumentava, cada vez mais escura. Alguns de nós procurávamos locais sórdidos, esperando encontrar companhia e aprovação. Por algum tempo, encontrávamos, mas vinham então o esquecimento e o terrível despertar, quando enfrentávamos os Quatro Cavaleiros abomináveis: o Terror, a Confusão, a Frustração e o Desespero.
Os bebedores infelizes que lerem este trecho saberão do que estamos falando! De vez em quando, um bebedor-problema, sóbrio por algum tempo, diz: “Não me faz a menor falta. Sinto-me melhor. Trabalho melhor. Divirto-me mais. “Como ex-bebedores-problema, sorrimos diante desta piada. Sabemos que nosso amigo é como um garoto assobiando no escuro para afastar o medo. Está enganando a si mesmo. Por dentro, daria tudo para tomar meia-dúzia de doses e conseguir parar. Logo estará tentando o velho truque outra vez, pois não está feliz com sua sobriedade. Não consegue imaginar a vida sem o álcool. Um dia, será incapaz de pensar na vida, com ou sem álcool. Então, conhecerá a solidão, como poucos. Estará no fim da linha. Desejará acabar com tudo.
Já mostramos-lhe como saímos do buraco. Você diz: “Tudo bem, eu quero. Mas estaria condenado a uma vida em que serei idiota, chato e mal humorado, como algumas pessoas virtuosas que conheço? Sei que preciso passar sem o álcool, mas como? Vocês têm um substituto à altura?”
Existe um substituto e é mais do que isto. É o companheirismo existente em Alcoólicos Anônimos. Lá, você encontrará alívio para a ansiedade, o tédio e as preocupações. Atiçará sua imaginação. Finalmente, a vida fará sentido. Os melhores anos de sua vida estão por vir. Esta é nossa opinião a respeito da Irmandade. E será também a sua. “Como acontecerá isto?”, você trará essa gente?” você quer saber. “Onde encontrar essa gente?”.
Você encontrará estes novos amigos em sua própria comunidade.
Perto de você, morrem alcoólicos desesperados, como náufragos. Se você vive numa cidade grande, existem centenas deles. Altos e baixos, ricos e pobres, são futuros companheiros de Alcoólicos Anônimos. Entre eles, você fará amigos para toda a vida. Estará ligado a eles por novos e maravilhosos laços, pois terão escapado juntos da tragédia e começarão lado a lado sua jornada em comum. Saberá, então, o que significa dar-se para que outros possam sobreviver e redescobrir a vida. Aprenderá o real significado de “ama o próximo como a ti mesmo.”
Pode parecer incrível que esses homens venham a ser novamente felizes, respeitados e úteis. Como podem reerguer-se de tanta miséria, má reputação e desespero? A resposta prática é que, já que estas coisas aconteceram entre nós, podem acontecer com você. Se você as desejar mais do que tudo e estiver disposto a valer-se de nossas experiências, temos a certeza de que acontecerão. A era dos milagres ainda existe. Nossa própria recuperação é uma prova.
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Fonte: Livro Alcoólicos Anônimos (Livro Azul), capítulo 11, páginas 179, 180 e um parágrafo da 181.
Nota nossa: o “livro azul” foi publicado em 1939 nos EUA e após foi traduzido para o português e publicado no Brasil em 1969. Foi escrito por alcoólicos anônimos que descreveram através de experiências como foi a recuperação de uma condição doentia física, mental, emocional e espiritual, inclusive, a condicionante da doença progressiva e incurável, que se não for detida a tempo, termina fatalmente na loucura ou na morte prematura de seus portadores.