Certo dia, ao ir para o colégio vi meus colegas num bar próximo à nossa escola. Ofereceram-me um copo de bebida alcoólica, que me trouxe uma sensação de poder e pertencimento.
Porém, com o passar do tempo, as coisas foram piorando. Passei a ter medo de mim mesmo por fazer tantas pessoas sofrerem à minha volta. Cheguei a pensar em suicídio; felizmente, não tive coragem. Tinha 26 anos de idade, sem perspectiva de vida, sem norte e até mesmo sem sonhos. Imaginava que seria meu fim.
Para piorar a situação, eu e um amigo de bebedeiras nos estranhamos. A briga foi tão grande que juramos morte um para o outro. Logo depois da confusão, notei que meu amigo havia desaparecido do bairro e da conveniência. Imaginei: Ele deve estar aprontando alguma coisa pra mim. Desconfiado como sou, fiquei esperto ou, como se diz por aqui, fiquei cabreiro.
Sentia vontade de parar de beber, mas não sabia como. Então, certa manhã, roguei a Deus que me mostrasse um caminho. Mal havia terminado minhas orações, escutei palmas na porta da frente de casa. Acreditem, meu inimigo número 1 veio trazer-me a mensagem de A.A., convidando-me para participar de uma reunião. Quase não o entendi, deixei a porta apenas entreaberta, com ele fora e eu dentro de casa, mas fui me acalmando e entendo.
Foi assim que, no dia 27 de agosto de 1990, cheguei ao Grupo de A.A. Recuperação, que chamo carinhosamente de meu grupo-mãe, onde fui muito bem recebido por todos os companheiros.
Já em irmandade, ao caminhar com vocês, percebi dois grandes momentos em que meu grupo-base me possibilitou compreender o que estava e sigo vivendo.
O primeiro, foi quando aceitei ingressar em Alcoólicos Anônimos. Parecia que as coisas ainda não se encaixavam bem, que faltava algo, que não se tratava somente de evitar o primeiro gole.
O segundo foi bem depois, quando senti necessidade de realmente permitir que o programa de recuperação, por meio de seus princípios espirituais, entrasse em minha vida por completo.
Considero que este foi um despertar propiciado pela minha participação em meu grupo base, que se chama Zerão, por estar localizado na Linha do Equador, próximo ao monumento Marco Zero, que demarca o meio do mundo em Macapá (AP).
Em diferentes momentos, o grupo me oferece reuniões de recuperação, reuniões de serviço, companheirismo e estudos da literatura A.A., distribuídos em uma reunião temática por mês e reunião de estudos aos domingos.
Em relação com nossa rica literatura acrescentou algo novo em mim, que até então não havia compreendido: possibilitou-me ver o mundo de outra forma. Desde então, nosso grupo vem crescendo, não somente na quantidade de membros, mas também em qualidade de recuperação pessoal. Essas experiências têm trazido mudanças significativas pra mim.
Surpreendentemente, aquele que um dia desistiria de sonhar, sem nenhuma perspectiva de vida, sem rumo, hoje se encontra renovado e feliz por ter tido a oportunidade de conhecer e participar da Irmandade de A.A.
Aos companheiros e companheiras que já estão em A.A., e aos que estão chegando, digo que é preciso perseverar sempre, desistir jamais. Assim como deu certo para mim, tenho certeza de que pode dar certo para todos quantos aceitarem ajuda em nossa Irmandade.
Autor: J. Lobo, Área A.A. 11-AP
Fonte: Revista Vivência, edição 203, páginas 29 e 30.